FOTOS BY JULIA RÓNAI |
George Friedrich Händel , uma das insígnias da música barroca,
tem atraído os coreógrafos sob visões diversas, mas com predominância das linguagens artísticas da contemporaneidade.
Entre algumas destas concepções destacam-se aquelas com base
na sua música orquestral : Paul
Taylor( “Airs”) e Vicente Nebrada, para a “Water Music”. Um fascínio que atinge também as suas óperas , como Acis and Galatea, por Wayne McGregor
.
Quanto ao seu mais célebre oratório O Messias, composição estreada em Dublin , 1742,existem algumas
significativas transcrições coreográficas.Especialmente a de John Neumeier , de 1999, inserindo passagens do compositor Arvo
Pärt, numa exponencial simbologia religiosa.
Além de uma ousada incursão iconoclasta de teatro/dança por Claus Guth e até um canadense
Soulful Messiah , incluindo sonoridades da black music mixadas às
partes da obra original.
A criação do argentino Maurício Wainrot , que o Ballet do Theatro Municipal
apresenta, tem 33 seleções do oratório O Messias, estando mais próxima da sua versão de 1998, para o Balé Nacional do Chile.
Nela, Wainrot assume um caráter anti-temático e de nenhuma ligação com o libreto bíblico de Charles Jennens. A trama narrativa evangélica desaparece ,sendo
referenciada apenas num desenho gestual da cruz e da Pietá .
O figurino( Carlos Gallardo) tem um sotaque fashion nas suas
elegantes calças, blusas e túnicas, quebrado apenas pela infeliz inclusão de longas
e esvoaçantes saias romantizadas, mas fora do contexto, no minimalismo clean da proposta.
A iluminação (Eli Sirlin) em tons discretos, alterna as
tonalidades branco/azul/cinza , num palco vazado e ocupado apenas por bancos.
Que, em diferentes posicionamentos, potencializam inspiradas formas escultóricas com os bailarinos.
Com sutil referencial
neoclássico, a gestualidade contemporânea é dividida em solos e formações em duos,
trios, quartetos, conjuntos. Propiciando expressivos confrontos de posturas enérgicas,
entre a largueza dos movimentos e flexionamentos, com o
relaxamento de sensíveis poses na
superfície do palco.
Ora agrupamentos masculinos( destacando-se Edifranc Alves,Filipe Moreira,Moacir Emanoel,Rodrigo Negri) ora femininos(Claudia e Priscilla Mota,Priscila Albuquerque,Carolina Neves ,Deborah Ribeiro,Karen Mesquita ,Renata Tubarão),com convincente suporte interpretativo . Reafirmando a crescente maturidade e o sensível empenho expressivo / técnico do Ballet do Theatro Municipal.
Favorecido pela competente execução da Orquestra e Coro do TM,
incluída uma talentosa geração de solistas ( soprano Lina
Mendes/ mezzo-soprano Carolina Faria, tenor Aníbal Mancini, barítono Inacio De Nonno), sob as
mãos firmes do maestro Sílvio Viegas.
Que na sua digna performance de músicos/cantores , apenas audível, não foi capaz
de preencher a expectativa dos olhares da plateia para a criação coreográfica, de linhas apuradas em seu tecnicismo abstracionista.
Mas revelando um distanciamento estético da emotividade , na sentida ausência de maior compromisso cênico com a emblemática simetria barroco/espiritual da obra de Händel.
Wagner Corrêa de Araújo
Wagner Corrêa de Araújo
O MESSIAS está em cartaz no Theatro Municipal/RJ, terça e quarta, 20h; domingo;17h. 80 minutos . Até 30 de dezembro.
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