KISS ME KATE: RECEITA MUSICAL - PORTER COM SHAKESPEARE

FOTOS BY LEO AVERSA

A primeira transposição de uma obra shakespeariana para a Broadway foi  A Comédia dos Erros que, na versão musical da dupla Rodgers/Hart, foi titulada em 1938, como " The Boys From Syracuse" .

Mas os exemplos mais clássicos, inspirados no universo shakespeariano,  foram "West Side Story' ( 1957) , o Romeu e Julieta nova-iorquino, entre a ópera e o musical,  de Leonard Bernstein. Precedido  em 1948, pela Megera Domada,  transformada em Kiss Me Kate, o grande triunfo da maturidade  criativa de Cole Porter.

Kiss Me Kate! O Beijo da Megera ,o espetáculo de Charles Möeller/Cláudio Botelho retoma uma concepção mais recente , original de 1999, com um conjunto  orquestral quase de câmara, nos doze integrantes de apurada competência.

Seu referencial é  pirandelliano -  teatro do espelho, representação dentro da representação. Aqui ,com senso de irônico  humor, acompanha uma tendência muito comum ao teatro e ao cinema norte-americano dos anos do pós-guerra . As constantes narrativas da produção de um espetáculo , dos bastidores à sua consecução, no confronto  do viver  cotidiano  com o ofício teatral.

Fred Graham( José Mayer) e sua ex-mulher Lili Vanessi( Alessandra Verney), vão atuar como Petruchio e Kate, numa montagem de A Megera Domada. Participa também, no papel de Bianca,  a volúvel Lois (Fabi Bang) por quem Fred é apaixonado, mas que prefere Lucentio(Guilherme Logullo).

Entram ainda, os ameaçadores  gangsters( Chico Caruso/Will Anderson),o pretensioso General Harrison(Léo Wainer), e o conciliador Batista  (Jitman Vibranovsky),em performances marcadas  por afinada sintonia.  Todos dividindo ou conflituando emoções , entre os camarins e o proscênio.

Incluído o coeso elenco de apoio, numa montagem de incrível requinte cenográfico(Rogério Falcão)e de sofisticadas luzes ( Paulo Cesar Medeiros) .Com moduláveis  telões, alternando os dois planos narrativos, de  contextualização  no elegante figurino renascentista/contemporâneo(Carol Lobato).

E, ainda, a impecável direção musical(Marcelo Castro) , a vivacidade do gestual coreográfico(Alonso Barros) , a versão  textual inteligente( Claudio Botelho) e o alcance da idealização estética no seu comando cênico ( Charles Moeller).

O carismático  suporte vocal/cênico  de Alessandra Verney encontra equivalência na vigorosa  composição musical/dramática de José Mayer. Singularizando-se,  da ágil baritonalidade  de Chico Caruso  em  "Chama o Shakespeare",  à ardilosa  espontaneidade da ária    de Fabi Bang (“Eu Sou Sempre Fiel”).

Em  direcionamentos , enfim,  de culminância  artística , capazes de  revelar a alquímica  receita Porter/Shakespeare /versão brasileira,   de engenhosa dramaturgia  e de mágica musicalidade.





 ( KISS ME KATE está em cartaz no Teatro Bradesco/ Barra, sexta, 21h30m;sábado, 21h;domingo, 20h. Até 13 de dezembro)

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